África Eco Race - O legado de Sabine?

ARTIGO - HISTÓRIA

Os mais puristas e seguidores da filosofia original do Paris-Dakar, certamente já estavam a apontar baterias para acompanhar mais uma edição deste rali-raid, que foi entretanto adiado, e que pretende manter vivo o legado de Thierry Sabine por terras africanas. Quem não se lembra da vitória da Elisabete Jacinto e sua equipa na classe camião, em 2019?

Se leram o anterior artigo sobre Paris-Dakar, o legado de Sabine era colocar à prova tanto pilotos e máquinas, com o seu início desde o continente Europeu, e percorrendo inóspitas e singulares paisagens com recurso a destreza de navegação até chegar a Dakar, no Senegal. Este era o Paris-Dakar original, a prova idealizada por Sabine.

No entanto, o final de 2007 apresentou-se com um nível geopolítico complexo.
O aparecimento de tensões políticas, assassinatos de europeus, e o florescimento de grupos extremistas como a Al-Qaeda e outras ramificações similares, originou o desaconselhamento de viagens para o Magreb. Não restou outra solução além de cancelar o Paris-Dakar na véspera do seu arranque.

O rali-raid Paris-Dakar, iria partir em 2009 para outros pontos geográficos, sem nunca mais voltar às suas origens. Recomeçou por terras da América do Sul e passou mais tarde, no ano de 2020, para a atual localização na Arábia Saudita.

Ora, redescobrir África seguindo o legado de Sabine deixou de ser possível, e foi assim, que em 2008, alguns veteranos encabeçados por Jean-Louis Schlesser e René Metge, em conjunto com a ajuda dos governos de Marrocos, Mauritânia e Senegal criaram o rali-raid Africa Eco Race de múltiplas etapas e que mantém a filosofia e legado de Sabine.

De trajeto similar aos originais que levam os seus participantes ao limite, foca-se na determinação, na valorização da solidariedade e valor humano, no convívio em grupo e sempre com consciência em responsabilidade ecológica.

Os bivouacs são essencialmente criados em ambientes autênticos e puros, para ficar longe da azáfama das cidades, aeroportos e outras infraestruturas, longe de tudo como uma forma de criar sinergias em volta dos valores da prova.

Esta continua a ser a prova que continua a permitir sonhar em percorrer as grandes pistas e os seus inesquecíveis cenários africanos inicialmente criados no Paris-Dakar, e para tal, passou a existir uma maior leveza nos regulamentos e uma aposta muito forte em segurança.

África Eco-Race e a Sustentabilidade

Como linha condutora, todos os envolvidos assumem um compromisso e cuidado para não deixar vestígios nocivos nas suas passagens. A título de exemplos:

  • Acampamentos permitem logística para incinerar, recuperar (por exemplo o óleo), e tratar o lixo em centros específicos.
  • Rota é adaptada para evitar zonas de proteção ambiental.
  • Fomentam a utilização de energias renováveis, infraestruturas de apoio a utilizar energia solar em detrimento de gerador sempre que possível.
  • Projectos de sustentabilidade, como a plantação de milhões de árvores em Nouakchott, o fornecimento de eletricidade em escolas com recurso a um parque solar, ou participar em projectos ecológicos e educacionais ao fornecer formas das crianças estudarem.

A vitória da equipa portuguesa

Após dois segundos lugares em edições anteriores, a piloto Elisabete Jacinto ao volante do camião MAN TGS da equipa Bio-Ritmo, e acompanhada por José Marques (navegador) e Marco Cochinho (mecânico) concluíram a prova de 2019 no primeiro lugar do pódio.
Se o feito já era notável, mais o é, se considerarmos que é a primeira mulher a consegui-lo numa prova internacional de longa duração em todo-o-terreno, ao volante de um camião. Somente Jutta Kleinshmidt tinha vencido até então, em classe automóvel, o Paris-Dakar.

Veículos e categorias em prova

  • Automóveis:  Categorias (Veículos modificados/proto) T1+, T1U, T1.1, T1.2, T1.3, T1.4, T1.5, Categorias (veículos de produção) T2.1, T2.2, Categoria (Proto leve) T3, Categoria (Side by Side) T4, Categoria SSV Extreme, Categoria Experimental (Hibrido, elétrico, ecológico), Categoria Livre, Categoria ‘ERA Open’

  • Caminhões: Categoria T5.1 (+10.000cc), T5.2 (até 10.000cc)

  • Motos/Quad: Categoria até 450cc, categoria de +450cc, categoria +650cc, categoria livre, categoria experimental (Hibrido, elétrico, ecológico)

A prova em 2023

O calendário para 2023 contemplava o 10 e 11 de Março como dias de verificações e arranque oficial  da prova em terras Francesas, antes da partida para Marrocos. O seu encerramento era previsto para o dia 26 de Março no habitual Lac Rose, em Dakar.

No entanto no dia 21 de Janeiro, quando já muitas das equipas afinavam a sua logística, a organização publicou um comunicado dando nota da impossibilidade de avançar nas datas propostas.
A justificativa foi baseada nas condições extremamente adversas a nível de clima, em especial dos níveis elevados das águas e respetivas inundações nos territórios de passagem deste rali raid.

Assim sendo, as datas oficiais para a prova passam para 30 de Dezembro de 2023, com o seu encerramento no Lac Rose a 14 de Janeiro de 2024.