Bertha Benz - A Pioneira
ARTIGO - HISTÓRIA

No Dia Internacional da Mulher, celebramos todas as mulheres, especialmente aquelas que desafiaram vontades e talharam novos caminhos com otimismo e determinação. Entre elas, destaca-se Bertha Benz, uma verdadeira pioneira para o mundo automóvel e dos valores inerentes ao overland. Muito antes da existência do termo, já demonstrava o verdadeiro espírito desta aventura, celebrando uma viagem sem garantias, pelo desconhecido e com recurso a engenho e coragem.
Bertha Ringer, de nacionalidade alemã, nasceu em 1849 numa sociedade predominantemente patriarcal. As mulheres eram vistas como esposas e mães, e a sua identidade estava infelizmente ligada às lides domésticas e à maternidade.
No entanto, Bertha possuía uma visão desafiadora sobre as expectativas sociais da sua época. Vinha de uma família de posses que apoiava a sua escolaridade, o que permitiu-lhe contrariar os costumes, demostrando desde cedo interesse por áreas como a mecânica, engenharia e ciências.
Conhece Karl Benz, um engenheiro empenhado em desenvolver um motor para carruagens sem cavalos, embora que ainda sem sucesso. O compromisso e crença na visão daquele que seria o seu futuro marido, levaram-na a apoiá-lo emocionalmente e a utilizar o seu dote de casamento de forma antecipada, dois anos antes do seu casamento em 1872.
Era o início de uma bonita parceria, e embora Benz tenha construído algumas variantes do Patent-Motorwagen, o conceito do veículo movido por um motor monocilíndrico a quatro tempos de 954 cm³ e que desenvolvia cerca de 2,5 cv era demasiado revolucionário para a época. Enfrentava o cepticismo da população e de possíveis investidores ainda presos a tradições.
Optimista como sempre, Bertha estava determinada a demostrar a viabilidade prática do automóvel e a provar que este era parte do futuro. E para o provar, tinha um plano.
Era madrugada de 5 de Agosto de 1888, e Bertha decidiu partir para uma aventura sem precedentes. Sem avisar o marido dos seus planos, e enquanto este ainda dormia, deixou-lhe um bilhete a dizer que ia visitar a mãe que morava a 106 quilómetros, e que voltaria dentro de alguns dias.
Bertha, acompanhada pelos seus dois filhos adolescentes, Eugen e Richard, empurrou o Patent-Motorwagen 3 até estarem suficientemente afastados de casa para ligar o motor sem despertar Karl, iniciando aquela que se tornaria a primeira grande viagem de longa distância da história automóvel.
Partiu de Mannheim para Pforzheim por um percurso marcado por estradas de terra batida e sem qualquer infraestrutura. As estradas naquela época eram para carroças e cavalos, rudimentares e cheias de desafios, algo que qualquer praticante de todo-o-terreno reconheceria – problemas mecânicos e a necessidade de improviso constante.

A viagem esteve longe de ser fácil, e Bertha enfrentou avarias que poderiam ter significado o fim da sua aventura. No entanto, a sua determinação e engenho permitiu-lhe não só ultrapassa-las, como ser pioneira e impulsionadora de conceitos atuais no mundo automóvel.
Na época, não existiam estações de serviço e o Motorwagen 3 tinha uma autonomia bastante limitada (somente 50 quilómetros). Bertha parou numa farmácia onde comprou ligroína, um solvente derivado de petróleo que servia como combustível. Tornou-se assim, a primeira pessoa da história a parar para reabastecer um automóvel, e a farmácia involuntariamente, a primeira estação de serviço do mundo.
Quando o sistema de alimentação do motor entupiu, reparou-o com um alfinete do seu chapéu, e quando o sistema de ignição ficou comprometido, utilizou uma liga das suas meias para o remediar, isolando o fio do circuito.
E ao perceber que os travões, que era apenas um pedaço de madeira em contacto com as rodas, estavam a perder eficácia nas descidas, parou numa vila. Dirigiu-se a um sapateiro e pediu-lhe para forrar os calços com couro – um conceito rudimentar das pastilhas de travão modernas.
A correia do motor também acabou por partir, e impossibilitada de continuar, Bertha voltou a socorrer-se junto de um sapateiro que conseguiu fabricar uma nova correia improvisada.
Se as descidas apresentavam dificuldades em travar, em certas subidas era preciso sair do veículo e empurra-lo. A fraca potência e a transmissão de duas velocidades não eram suficientes para fazê-lo avançar colina acima com os seus ocupantes. Foi assim que Bertha explicou mais tarde que os futuros veículos precisavam de uma redutora para ter força nas subidas.
Karl Benz apenas soube da viagem quando Bertha lhe enviou um telegrama ao chegar a Pforzheim, informando-o do sucesso da aventura. Após alguns dias de descanso, Bertha e os filhos regressaram a Mannheim por outra rota, enfrentando novamente desafios pelo caminho, mas essencialmente comprovando em definitivo que o Patent-Motorwagen 3 era prático e confiável.
Esta viagem, de 180 quilómetros, não só demonstrou a viabilidade do automóvel, como também provou que as mulheres eram tão engenhosas, resilientes e determinadas quanto os homens.
A população passou a acreditar na inovação da carruagem sem cavalo, e Karl recebeu os apoios para expandir e produzir mais veículos.

Bertha Benz: A Primeira Overlander
Embora Bertha Benz nunca tenha ouvido falar do termo overland, o seu feito foi, sem dúvida, a primeira viagem de longa distância com um veículo automóvel documentada na história.
É a prova que um automóvel podia levar-nos mais longe, mesmo quando mais ninguém acreditava nisso.
Hoje, um século depois, quando falamos de aventuras e expedições overland, de explorar novos horizontes, de confiar na nossa capacidade de resolver problemas em plena jornada, estamos no fundo a seguir os passos de Bertha Benz.
Muito antes de existirem jipes preparados para todo-o-terreno ou expedições organizadas, ela fez aquilo que todos os overlanders fazem até hoje: simplesmente agarrou no volante e seguiu viagem.
Bertha Benz: A Pioneira de conceitos no mundo automóvel
Bertha Benz ficou indiscutivelmente ligada ao mundo automóvel.
O seu feito garantiu à invenção do seu marido a visibilidade e aceitação que precisavam para atrair novos investidores, mas foi o seu financiamento inicial que permitiu as primeiras criações, que são amplamente reconhecidas como o primeiro automóvel do mundo.
A Benz & Cie, viria mais tarde a fundir-se com a Daimler-Motoren-Gesellschaft, de Daimler e Maybach e depois a história e sucessos da Mercedes-Benz já os conhecemos.
Foi ainda precursora e influenciadora:
- Viagens automóveis de longa distância.
- Conceito da necessidade de estações de serviço.
- Primeira mulher ligada à indústria automóvel.
- Sistema de travão que evoluiu para as pastilhas de travão.
- Transmissão com marcha de redução para gerar força e menos velocidade (princípio primitivo das nossas actuais redutoras).