Campismo e Overland: Duas Formas de explorar o mundo!
ARTIGO - HISTÓRIA

O apelo da natureza tende a ser universal. Desde a tranquilidade dos bosques, à vastidão de cordilheiras e seus vales, do chilrear das aves e ou das vistas desafogadas para o mar, milhares de pessoas como nós, encontram no ar livre uma forma de desconectar do dia-a-dia. É o chamado voltar ao essencial, ou como se diz na moda “back-to-basics”.
Estávamos em 2019 e chega a pandemia. Todos repensámos as prioridades, e as saídas citadinas começaram a ser substituídas por aventuras e por novas ligações com a natureza.
Ao grupo de pessoas que já anteriormente o praticavam, juntam-se agora cada vez mais pessoas que passam a explorar diferentes formas de viajar e acampar.
Entre as várias opções disponíveis, seja nas redes sociais ou em conversas entre amigos, dois termos destacam-se no mundo da aventura todo-o-terreno: Campismo e Overland.
Embora possam parecer semelhantes à primeira vista, cada um destes conceitos possui características únicas que os distinguem e, ao mesmo tempo, os unem numa paixão comum pela exploração e descoberta.

Campismo: Comunhão com a Natureza
O campismo é uma prática antiga, contudo, o campismo moderno tal como o conhecemos hoje, começou a ganhar a sua forma no final do século XIX e início do século XX. É uma forma enraizada na nossa tradição de passar tempo ao ar livre, na busca pela simplicidade e subsequente conexão com o meio ambiente. Teve um aumento de expressão no nosso país a partir da década de 1930 por influência de movimentos internacionais tais como o escotismo, e promovia-se à época essencialmente os valores da ligação à natureza.
Na década de 40, durante o regime do Estado Novo, o campismo começou a organizar-se, e além do associativismo passaram a existir zonas dedicadas para a prática, e nas décadas seguintes, surgia a criação dos primeiros parque de campismo, maioritariamente na zona da nossa costa em especial com praias, mas também em montanha.
O campismo estava popularizado, e a década da revolução de Abril parecia ter democratizado finalmente a prática. Toda a gente tinha acesso e era alternativa para famílias e ou grupos de amigos que procuravam viajar economicamente para desfrutar da natureza.
Foi no entanto este mesmo boom que levou ao aparecimento das primeiras restrições ao campismo livre e selvagem, aquele que é talvez o conceito de campismo mais apreciado pelos nossos seguidores.
Durante a pandemia de Covid-19, apesar dos dados da Federação de Campismo e Montanhismo indicarem um grande decréscimo nas dormidas em parques de campismo (as únicas que podemos rastrear) nos anos de 2020 e 2021 devido às restrições, notou-se também um maior interesse dos nossos seguidores por esta prática como uma alternativa de férias que permitisse o distanciamento social.
Atualmente a prática parece acolher diferentes perfis de praticantes, e deixou de ser sinónimo de utilizar uma tenda, desde os aventureiros que optam por acampar em locais remotos (atualmente proibido em Portugal), a quem utiliza a sua viatura como base, até ao outro extremo como aqueles que preferem o conforto dos modernos glampings.
Equipados em autocaravanas, automóveis, jipes, com tendas, sejam de chão ou de tejadilho, respectivos sacos-cama e os indispensáveis utensílios de cozinha portáteis, a finalidade é sempre a mesma. Desconectar da nossa vida urbana e reconectar junto da natureza com o foco primário no descanso.



Overland: Onde a Jornada é o Destino
Overland, sem tradução para a nossa língua, é uma forma de viagem autossuficiente, que tal como o nome indica, envolve percorrer por terra longas distâncias e para destinos remotos. É uma ode à exploração e aventura, onde o objectivo principal é a jornada e não o destino.
O termo, ou modalidade se assim preferirem, é originário da Austrália, com aparecimento ainda na primeira metade do século passado. Popularizou-se inicialmente por países com vastas regiões remotas e selvagens onde é possivel explorar sem depender de infraestruturas ou comodidades primárias, mas que atualmente vem suscitando o interesse de novos praticantes um pouco por todo o lado.
O meio de transporte é secundário, a pé, de bicicleta, mota, jipe, autocaravana, ou de camião, acampar é indubitavelmente a única forma de pernoitar.
Assim, será seguro afirmar que esta prática não se limita a um único local de acampamento, pelo contrário, trata-se de uma expedição contínua que muitas vezes leva a viagens de milhares de quilómetros e múltiplas zonas geográficas. Cada pernoita é uma transição de capítulos, ao invés de depender de hotéis ou pousadas.
Mas conhecer o mundo no seu estado puro, os seus povos e as suas culturas, requer percorrer por vezes caminhos remotos e tecnicamente desafiantes.
Nesse sentido, existe habitualmente uma preparação prévia e recomendada, quer dos seus praticantes, como nos veículos escolhidos.
Em Portugal, e na dinâmica do tema deste espaço, as viaturas são maioritariamente equipadas com transmissão 4×4, sendo os jipes longos os mais utilizados (embora existam outras tipologias), e pessoas muito creativas na gestão do espaço.
A mobilidade e adaptação são importantes, portanto os equipamentos devem ser robustos mas igualmente práticos. Podem conter sistemas de armazenamento, cozinhas portáteis, sistemas de refrigeração/congelação de alimentos, toldos, sistemas de duche, sistemas redundantes, autónomos de bateria, tendas de tejadilho ou outros.
A imaginação é o limite, mas o importante mais uma vez, não é a quantidade de equipamento que levamos, mas sim o foco em permitir a autonomia e o propósito de toda a nossa jornada.

Pontos de Conexão e Divergência
Se chegaste até aqui, então percebeste que ambos partilham o regresso à simplicidade da vida e do contacto com a natureza.
Promovem o conceito de sair da rotina diária, e consoante a nossa personalidade, pode requer sentido de aventura e planeamento.
Ambos podem valorizar a autossuficiência, no entanto o campismo é essencialmente uma atividade mais estática, previsível nos acontecimentos, e onde o foco é estar num refúgio temporário num local específico. Aquela ida de fim de semana à barragem ou praia, quem nunca?
Já o overland, tende a ser mais dinâmico, de movimento e exploração contínua. Estes factos, levam que invariavelmente se exija mais resiliência e capacidade para lidar com desafios e imprevistos, em especial em áreas remotas.
Em jeito de conclusão, é possível acampar sem praticar overland, mas não é possível fazer overland sem acampar. No entanto, e qual seja o conceito que pratiques, ou o nome que dês à tua atividade, o importante é ir.
Se estás a iniciar-te nas aventuras do todo-o-terreno com ideias de exploração, um bom ponto de partida pode ser um fim de semana de campismo. A ida e regresso pode ser realizada, se assim desejares por caminhos rurais ou de monte, e o equipamento essencial pode ser devidamente testado. Sem pressas!
Podes ainda contar com a maior comunidade de overland em Portugal, o grupo Overland Portugal Club, acessível na rede social Facebook. Podes aprender e questionar sobre as tuas ideias mirabolantes, afinal de contas a comunidade overland é conhecida por ser acolhedora e solidária.
Se procuras desafios maiores, aventura-te no overland no sentido do conceito, inspira-te em Bertha Benz ou no nosso José Megre, prepara o teu jipe (só é preciso o básico) e lembra-te que independentemente do caminho escolhido, o nosso mundo está cheio de trilhos por explorar e de horizontes por descobrir.
Vemo-nos por aí?
